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terça-feira, 12 de janeiro de 2010

COOPERATIVISTAS NO MUNDO

BASTA MANTER AS ESTRUTURAS INTERMEDIÁRIAS?

Eu temo que grande parte dos trabalhos feitos pela burocracia para os cooperados, dirigentes e funcionários não serve para eles. Os livros, os manuais, os cursos, enfim, de nada servem, a não ser para manter a academia e a burocracia dos chamados técnicos do sistema e assessores.

Acompanho, participo e observo o cooperativismo brasileiro há mais de 30 anos, como técnico, como dirigente e como cooperado. O que já se gastou em treinamentos, consultorias, material didático, comunicação e outras iniciativas tem sido uma fábula. Instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais, já investiram somas valiosas que, em boa medida, servem, quase sempre, para manter as estruturas intermediárias, ou seja, a burocracia.

O discurso da academia e do burocrata não chega à base e não opera mudanças. O discurso é autoritário, fechado, eloquente, porém pouco operativo. O educador pernambucano Paulo Freire dizia que só há educação quando há mudança de comportamento do educador e do educando. É nesse contexto que se insere a reflexão a respeito da cognição, do conhecimento.

Esse texto, que ora escrevo e disponibilizo para o público leitor, não serve ao público para o qual trabalhamos. Primeiro, porque não chega a ele; depois, porque não lhe interessa, uma vez que os signos são outros.

O escritor marfinense, Albert Tévoédgé, autor do importante livro “A Pobreza, Riqueza dos Povos”, com um belo prefácio de Dom Hélder Câmara, explica bem este fenômeno. Estruturas são montadas, entidades são constituídas, plêiade de técnicos e consultores são pagos em nome dos pobres. A situação dos pobres pouco ou nada muda. Em nome dos pobres e da pobreza mantém-se um discurso desenvolvimentista que não gera mudanças e nem as mudanças interessam à burocracia porque vive da pobreza dos pobres.

Por fim, creio que não restam dúvidas de que o leitor pode iniciar uma reflexão para o fato real da ineficácia dos trabalhos (boa parte) prestados pela burocracia. Falta um aprofundamento em questões centrais no trato epistemológico do discurso. A burocracia constrói o seu trabalho e, discursivamente, objetos do discurso. O mundo percebido é elaborado como uma maneira de ser percebido pela forma discursiva. O mundo da experiência sensorial não tem uma face externa palpável. Por isso, “não produzo o mundo, mas fabrico a forma de perceber este mundo. Assim, a minha percepção do mundo e a descrição que faço dele são frutos de categorização que elaboro constantemente dos objetos que me rodeiam.”

Valho-me, por fim, do professor Marconi Oliveira da Silva que, na sua tese de doutorado, transformada no livro “Imagem e verdade-jornalismo, linguagem e realidade”, explica que “a palavra representa um conceito que substitui o objeto”. Os fatos sociais se enquadram, portanto, em tudo o que envolve a vida em sociedade, com suas estruturas que condicionam os contextos e ambientes onde desabrocham as instituições (igreja, cooperativa, família, escola, tribunal, legislativo, etc.) e mais que isto, como explica Marconi Oliveira, a cultura específica de cada comunidade.

Aí mora o perigo e o desafio, pois o trabalho da burocracia atreve-se a chegar até o mundo institucional, que possui estruturas capazes de se interligarem construindo uma realidade social com bastante visibilidade. E todos se dão por satisfeitos.

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